Meses atrás gravei um vídeo para o YouTube falando das plaquinhas, topos de bolo e outros itens que vira e mexe reforçam conceitos machistas.
Semana passada publiquei uma foto no Facebook e convidei as pessoas a refletirem sobre isso. Pronto! Foi o bastante para começar uma briga inflamada nos comentários.
Chamo de briga porque choveram argumentos ríspidos, grosseiros e mal educados. Infelizmente falhei na missão de promover uma discussão saudável.
Como eu mesma dei muitas resposta atravessadas (não tenho sangue de barata), achei que seria de bom tom ter um post mais completo, detalhado e explicativo, afinal, o papel do blog não se limita a publicar foto bonitinha.
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Sempre dei a cara a tapa e acredito que um dos papéis do projeto é incentivar o debate.
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Antes de mais nada, não estou aqui para dizer o que os casais devem ou não fazer. Ao contrário, sou a primeira a incentivar: se joguem nos preparativos e sejam vocês mesmos.
A ideia deste e de outros conteúdos questionando o machismo nosso de cada dia é que possamos refletir juntos, aprender e crescer.
Dito isso, não se sinta ofendido caso seus gostos sejam colocados em xeque. Pondere, pense a respeito, permita-se avaliar os argumentos expostos. E se mesmo assim sua opinião continuar intacta, ótimo. Minha meta não é impor nada.
Estamos entendidos? Vamos lá.
PLAQUINHAS MACHISTAS
Não foge, ela está linda.
Tem certeza? Ela come demais.
Cuidado! Loira gasta muito.
As frases acima são apenas alguns exemplos de plaquinhas que tenho visto por aí.
Aquelas que são levadas pelos pajens antes da entrada da noiva.
Sim, muita gente acha engraçado, outros nem entendem o que há de errado nisso, então tentarei ser didática.
Óbvio que os noivos que se dispõe a ter uma plaquinha desse tipo estão brincando, se amam (assim espero) e se querem bem. Ninguém está casando por obrigação.
Acontece que esse tipo de piada reforça a ideia de que o casamento é uma necessidade para a mulher e um castigo para o homem, que só tem que casar se a noiva for linda, maravilhosa, espetacular.
Sem contar que fazer piada com “come muito” e “gasta muito” é mais antiquado que máquina de escrever.
Como assim, gasta muito? Por acaso a mulher de hoje em dia casa pensando em ser sustentada pelo marido?
Sim, são piadas, mas que piadinhas chulas, hein?
Em um momento especial e único como a entrada da noiva na cerimônia, por que se expor dessa forma?
Eu poderia citar um milhão de frases lindas, trechos de músicas, coisas significativas na história do casal e até mesmo piadas muito mais inteligentes, como se espera de dois adultos no seu grande dia.
ENSAIOS DE GOSTO DUVIDOSO
Quando o assunto são os ensaios pré wedding, também é comum encontrar exemplos do que não fazer.
Noivos amarrados, noivas armadas obrigando o parceiro a dizer sim, plaquinhas onde ela promete cozinhar e ele promete liberar o cartão de crédito… Oi?
Pra começar, onde uma pessoa armada (ainda que com uma arma de brinquedo e em tom de piada) é reflexo de amor?
De novo a mulher colocada no papel de desesperada, enquanto o homem é uma vítima da necessidade feminina de subir ao altar.
O ensaio pré casamento é um momento para brincar, colocar a criatividade pra jogo e fazer algo leve e descontraído.
Vai por mim: brincadeirinha machista não é algo novo, além de bobo, ofensivo e extremamente ultrapassado.
TOPO DE BOLO
Ainda existem os topos de bolo engraçadinhos, com o noivo amarrado e arrastado pela noiva até o altar.
Cá entre nós: ele está casando obrigado? Então por que diabos reforçar essa piada machista, boba e sem graça?
Coloquem os pets, pensem em topos com as iniciais, inovem e brinquem com as características do casal, mas deixem a ideia de “meu noivo está aqui por obrigação” para trás!
Pare e pense: são brincadeiras assim que você quer mostrar no álbum de casamento, daqui a 50 anos?
Pessoalmente prefiro cumplicidade e humor do bem.
E isso não é uma questão de opinião, porque o machismo – infelizmente – tá aí, às vezes escancarado, às vezes disfarçado de piada.
Cabe a nós acabar com ele no casamento, nas pequenas brechas, no dia a dia.
Mais bom senso, mais igualdade, mais respeito. Começar a vida a dois com coerência e amor é muito mais gostoso!